Rebecca Solnit começa o brilhante
Os Homens Explicam Tudo Para Mim narrando experiência pessoal em que, ao
dialogar com um homem mais velho, imponente, rico e distinto, ouviu comentário
de que havia ouvido falar sobre dois livros de sua autoria, solicitando que
falasse sobre os mesmos, neste momento a autora começou a relatar sobre seu
último – Rio das Sombras: Eadweard Muybridge e o Faroeste Tecnológico; ao citar
Muybridge, foi de pronto interrompida pelo interlocutor, que indagou se já tinha
ouvido falar de um livro muito importante editado naquele ano sobre Muybridge, passando
de pronto a comentar sobre a edição, afirmando, inclusive que ela tinha que conhecer;
a prelação só findou quando a amiga, pela terceira vez, interviu e afirmou que
era o livro DELA.
O senhor então calou-se e
empalideceu, continuando a falar pouco tempo depois, incessantemente; as
interlocutoras educadamente ouviram até o final e somente riram do episódio
quando não mais estavam na presença do embaraçado homem.
O termo mansplaining foi cunhado logo após a publicação de seu livro,
recebendo a autora o crédito por ser a inventora.
O livro prossegue falando sobre a
violência contra a mulher, Rebecca ver os frequentes episódios de estupros
coletivos, assassinatos, não como casos isolados e sim um padrão se repetindo, uma
violação de direitos civis ou humanos, não tem raça, classe, religião,
nacionalidade, tem gênero.
Após dois terços do livro lido, me
flagro questionando que o tema central do livro, hoje difundido como mansplaining – termo que por sinal a
autora reluta em utilizar, por motivo que nesse breve escrito não é pertinente
citar -, é deixado de lado, passando a violência contra a mulher nas mais
diversas formas a ser discutido.
Quase ao final dessa leitura
deliciosa, identifico que o meu questionamento foi compartilhado pela autora, que
brilhantemente explica a causa dessa suposta mudança de tema, é que nós
tendemos a tratar a violência e o abuso de poder como se as duas coisas
estivessem em categorias hermeticamente fechadas: assédio, intimidação,
espancamento, estupro, assassinato; porém Rebecca identificou que o que
pretendeu dizer é que essas coisas quando começam vão escorregando ladeira
abaixo, o importante é encarar a ladeira ao invés de colocar em compartimentos
estanques as diversas variedades de misoginia.
Um homem age com a convicção de
que nós, mulheres, não temos o direito de falar, nem de definir o que está
acontecendo, assim, pode significar apenas interromper sua fala, mandar calar a
boca, ameaçá-la caso abra a boca, bater em você por ter falado, ou matá-la para
nos silenciar para sempre.
Pode ser o irmão, o marido, o
chefe, um estranho, alguém que você nunca viu e que está com raiva de alguma
outra pessoa, mas julga que “as mulheres” constituem uma categoria tão pequena
que você pode substituir esta por “aquela”. Ele está ali para lhe dizer que
você não tem direitos.
O livro é um despertar, nos joga
na cara o que lidamos na vida, umas com mais frequência que outras, nos mostra
que não estamos solitárias nessa luta constante para podermos ser e existir.
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